A obesidade mórbida é uma condição que vem aumentando ao longo dos anos, e a cirurgia bariátrica é o método que apresenta melhores resultados a longo prazo. Associada a obesidade também temos diversas doenças que são amenizadas com o controle do peso. Classicamente a diabetes e hipertensão arterial são as mais associadas, no entanto também possuímos doenças neoplásicas que também possuem relação com a obesidade.
O objetivo do estudo foi avaliar se a cirurgia bariátrica teria algum benefício na diminuição de neoplasia em pacientes submetidos ao tratamento operatório. Sabemos que a melhor forma de resolvermos uma dúvida médica científica é a realização de ensaios clínicos randomizados, prospectivos e com grupos cegos. No entanto, esta modalidade de estudo, possui grandes limitações para a realização quando envolve procedimentos cirúrgicos.
Métodos
Estudo retrospectivo que analisou relatórios de alta hospitalar na França, de pacientes candidatos a tratamento operatório com IMC > 40 kg/m² ou IMC > 35 kg/m² associado a comorbidade, entre 2010 e 2017. Objetivo foi comparar aqueles pacientes realmente submetidos a um a tratamento bariátrico com aqueles que não foram. O desfecho primário a ser observado foi o surgimento de qualquer modalidade de câncer, incluindo tipos classicamente relacionados à obesidade. Interessante notar que o estudo das neoplasias não relacionadas à obesidade foram incluídos como forma de validar se houve um viés de seleção, uma vez que o procedimento bariátrico não deve influenciar a diferença de incidência entre os grupos. Os grupos foram criados com escores de propensão de risco para que a população analisada fosse semelhante na proporção de 1:2.
Resultados
Um total de 3.633.019 pacientes foram admitidos no sistema francês hospitalar com diagnóstico de obesidade e 2.764.66 (76,1%) foram diagnosticados com algum tipo de câncer. Deste total e após as exclusões necessárias, foi criado o grupo cirurgia bariátrica com 288.604 indivíduos (23,3%) e no grupo controle 851.743(74,7%). Entre os pacientes do estudo 4483(1,6%) desenvolveram câncer no grupo bariátrica e 43.928 (5,2%) no grupo controle, sendo o câncer colorretal o mais frequente. A análise estatística demonstrou o risco relativo para câncer na população submetida a procedimento bariátrico foi de 0,92 (95% IC 0,88 a 0,97) sendo que o RR diminui para 0,89 (0,83-0,95) nos câncer relacionados a obesidade e nos cânceres não relacionados a obesidade o RR 0,96 (0,91 a 1,01).
Discussão
Este desenho de estudo simula um ensaio clínico ao comparar populações submetidas a um procedimento cirúrgico com um grupo não operado. Os resultados demonstraram uma diminuição de 11% na incidência de câncer relacionada à obesidade nos pacientes submetidos a tratamento. Interessante notar que o mesmo benefício não se evidenciou nos tumores não relacionados à obesidade, demonstrando que fatores confundidores foram diminuídos pelo desenho do estudo.
Diversos outros estudos demonstraram resultados do benefício da cirurgia bariátrica na prevenção dos cânceres relacionados à obesidade e alguns com achados ainda mais expressivos com RR de 0,65 (0,51-0,69), numa população de 22 mil pacientes.
Existe alguma preocupação que procedimentos bariátricos que aumentem a incidência de refluxo como a gastrectomia vertical possa de certa forma aumentar a incidência de câncer de esôfago. No entanto, isto não se provou verdadeiro.
Para Levar para casa
Sem dúvida, o excesso de peso além de causar diretamente comorbidade leva a condições inflamatórias e hormonais que cursam com o aumento da incidência de alguns tipos de câncer. A cirurgia bariátrica é cada vez mais encarada como interdisciplinar envolvendo inclusive a oncologia com a prevenção primária de câncer.
Fonte: Peb Med